O excedente de capacidade da indústria siderúrgica global esteve no centro das discussões dos executivos das principais fabricantes de aço reunidos ontem, em São Paulo, na Conferência anual da Worldsteel, principal associação que representa o setor. Repetindo reclamações que já vêm fazendo nos últimos meses, os empresários citaram como agravante o aumento da produção chinesa, o alto custo da energia e o fraco crescimento das economias globais, e demonstraram mais preocupações com os países emergentes.
Atualmente, o mundo possui um excedente de capacidade de aproximadamente 540 milhões de toneladas, segundo Albano Chagas Vieira, presidente do conselho do Instituto Aço Brasil e presidente da Votorantim Siderurgia. 'O excesso de capacidade é o maior problema estrutural da indústria siderúrgica hoje', disse Benjamin Baptista, presidente da ArcelorMittal Brasil, que mencionou como complicador o fato de as grandes estatais chinesas continuarem a elevar a produção.
Em uma apresentação que gerou a insatisfação de alguns empresários presentes, o diretor da McKinsey & Company, Sigurd Mareels, disse que a solução do setor é a redução da capacidade em 300 milhões de toneladas. Segundo ele, só assim a indústria siderúrgica poderia ter sustentabilidade. 'Mas o mundo teria hoje capacidade financeira para cortar apenas 100 milhões de toneladas, o que não seria suficiente', afirmou.
Mareels acrescentou que o excesso de capacidade de aço no mundo deve continuar, principalmente na Europa, na China e nos países mais desenvolvidos da Ásia. 'Temos de reavaliar a forma como o setor vai crescer', afirmou. O especialista disse ainda que as empresas do setor deveriam ter margem Ebitda de 17%, mas que hoje o número varia de 7% a 14%.
Alguns dos empresários presentes no evento criticaram a opinião de Mareels e afirmaram que as companhias possuem habilidade para conseguir sustentabilidade mesmo em momentos difíceis. O consenso foi a necessidade de redução no ritmo de aumento de capacidade.
Jorge Gerdau Johhanpeter, presidente do conselho da Gerdau, que estava na plateia como ouvinte, tomou os microfones e criticou o fato de as empresas na Ásia operarem com uma margem Ebitda de 2,5%, o que considerou 'impraticável'. 'O excesso de capacidade significa que foram feitos investimentos sem se pensar no retorno', acrescentou.
Do lado da demanda, as maiores preocupações dos executivos e da Worldsteel estão ligadas ao crescimento dos países emergentes. Hans Jürgen Kerkhoff, presidente do comitê de economia da Worldsteel, frisou que as condições econômicas globais são desafiadoras e que há um enfraquecimento cíclico e estrutural dos emergentes. 'Esses países vão continuar a superar o crescimento dos desenvolvidos, mas em um ritmo muito menor do que o visto nos últimos anos', afirmou.
Apesar das preocupações, a própria Worldsteel ainda prevê crescimento da demanda global por aço. Ela revisou suas projeções para uma estimativa anterior de avanço de 2,9% no consumo para um aumento de 3,1% neste ano, chegando a 1,475 bilhão de toneladas. Para o ano que vem, a previsão é de crescimento de 3,3%, para 1,523 bilhão de toneladas. Na projeção anterior, divulgada em abril, a associação previa uma alta de 3,2%.
Para Alexey Mordashov, presidente da siderúrgica russa Severstal e ex-presidente do conselho da Worldsteel - ele acaba de dar lugar Joon-Yang Chung, presidente da sul-coreana Posco -, a urbanização gera oportunidades de expansão para o mercado de aço. Ele diz que a previsão é de que 2,5 bilhões de pessoas saiam de zonas rurais para as urbanas até 2030.
Na estimativa Worldsteel, a China deve puxar o consumo global de aço com aumento de 6% neste ano, para 700 milhões de toneladas, quase metade da demanda global. Para 2014, a previsão é de desaceleração e um crescimento de 3%, para 721 milhões de toneladas. Segundo Kerkhoff, os esforços do governo para rebalancear a economia chinesa vão contribuir para restringir os investimentos.
A Worldsteel acredita que os EUA resolverão em breve suas questões fiscais e vê uma leve melhora também de outras economias desenvolvidas. A associação prevê um crescimento de 0,7% na demanda americana por aço neste ano, para 97 milhões de toneladas, e de 3% em 2014.
Kerkhoff acrescentou que as economias indiana e brasileira não vêm mostrando um desempenho como era esperado, principalmente por causa de questões estruturais. Para o Brasil, a estimativa da Worldsteel é de crescimento de 3,2% na demanda por aço neste ano, para 26 milhões de toneladas, e de 3,8% em 2014, para 27 milhões de toneladas. O setor de construção, na opinião de Kerkhoff, deverá ser um dos principais impulsionadores da demanda brasileira por aço no ano que vem.
Extraído => Valor - 09/10/2013