Gabriel Bonafé
O aço patinável, mais conhecido como Corten, é um aço estrutural de alta resistência e baixa liga utilizado em diversos projetos na construção civil, tanto em aplicações internas quanto externas. O material possui elementos de liga como cobre, cromo, vanádio e outros que, por meio de um processo complexo de reação química em contato com a atmosfera, desenvolve naturalmente uma pátina protetora.
Além de proporcionar ao aço patinável visual rústico, com pigmentação vermelho-ferrugem, essa camada de óxido (pátina) também amplia as propriedades anticorrosivas do material, repelindo a entrada de oxigênio e umidade. Inclusive, a denominação Corten, marca registrada da Companhia do Aço dos Estados Unidos (United States Steel Corporation), refere-se a uma junção de “resistência à corrosão” em inglês (corrosion resistance).
As propriedades de resistência à corrosão, assim como o tempo para o desenvolvimento da pátina, variam conforme as características atmosféricas nas quais o aço patinável está inserido. O principal fator diz respeito à umidade, sendo necessária uma alternância entre dias secos e úmidos. “Se só chover, se for um ambiente permanentemente úmido, ou houver acúmulo de água, a pátina pode até surgir, mas não terá o efeito protetor esperado”, afirma Glaucia Bisolli, engenheira civil e membro da Comissão Executiva do Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA).
Para que a pátina se desenvolva onde é inviável a reação química do aço com a atmosfera, são adotados processos físicos e químicos de preparação da superfície que aceleram a formação da camada. A aplicação da técnica metalúrgica só é válida para os materiais que apresentam os elementos de liga característicos desse tipo de aço.
Aplicações
Não existe uma distinção em propriedades técnicas do aço patinável utilizado em ambientes externos e internos. Trata-se do mesmo material, mas que assume funções diferentes. Por apresentar maior resistência à corrosão em relação ao aço comum, o patinável é mais apropriado para ficar exposto em áreas externas que não o sujeitem ao contínuo molhamento.
O material pode ser visto em esculturas ao ar livre, na fachada externa de edificações, monumentos, pontes, viadutos etc. Em situações agressivas de umidade ou com muitas alternâncias entre ciclos secos e chuvosos, recomenda-se revestir o material com pintura anticorrosiva, assim como é feito com o aço comum.
O aço patinável permite fabricar uma estrutura com a mesma resistência do aço comum, só que utilizando menor peso em matéria - Célio Santos
Ainda assim, como o aço patinável produz volume de óxido menor do que os demais tipos de aço, a durabilidade de um eventual revestimento será maior, reduzindo a necessidade de manutenção. Aplicado sem revestimentos, o material não requer manutenção, apenas limpezas periódicas com produtos neutros.
Em aplicações internas, o aço patinável assume função decorativa. “Alguns arquitetos aplicam o aço patinável para diferenciar o ambiente graças à sua beleza diferenciada, que dá um efeito rústico ao local”, observa Humberto Bellei, engenheiro civil e membro da Comissão Executiva do CBCA. O material costuma ser empregado em escadas, painéis, mobiliários, portas, entre outros. “Dependendo do uso da peça, é preciso aplicar uma proteção para evitar que as pessoas e os materiais sejam manchados pelo óxido em eventuais contatos”, observa Célio Santos, diretor comercial da Oficina do Corten.
Fabricação rentável
Os elementos de liga do aço patinável também proporcionam melhores propriedades mecânicas ao material, o que resulta em maior resistência ao alongamento (de 300 a 700 Mpa) comparado aos aços tradicionais (cerca de 130 Mpa).
Como os elementos de liga não aumentam o peso-próprio do aço patinável, cuja densidade é igual ou semelhante à dos demais tipos de aço (cerca 7.850 kg/m³), sua fabricação se torna mais rentável. “O aço patinável permite fabricar uma estrutura com a mesma resistência do aço comum, só que utilizando menor peso em matéria”, aponta Santos.
Alguns arquitetos aplicam o aço patinável para diferenciar o ambiente graças à sua beleza diferenciada, que dá um efeito rústico ao local - Humberto Bellei
Produção de custo elevado
O aço patinável pode ser fabricado com espessura mínima de 2 mm e, geralmente, é fornecido em bobinas ou em chapas para grandes espessuras. Embora seja fabricado, em geral, pelas usinas siderúrgicas nacionais, é um material de difícil acesso no país, requerendo maior esforço por parte dos arquitetos e projetistas no momento da especificação. “O modo como se projeta no Brasil é diferente do modo que se projeta nos Estados Unidos, que é uma indústria forte em aço”, contextualiza Gabriela Muller, arquiteta e urbanista e sócia-fundadora do ATRIA.
“O aço patinável não é um material de prateleira como um porcelanato, um MDF ou um assoalho de madeira. As peças são resultado de um processo longo e da fabricação sob medida que envolve equipamentos pesados e de custo elevado”, conta Santos.
A Associação Brasileiras de Normas Técnicas (ABNT) estabelece, por meio das NBR 5008, 5920 e 5921, os requisitos para encomenda, fabricação e fornecimento de bobinas e chapas de aços de alta resistência e baixa liga, resistentes à corrosão atmosférica. A norma europeia EN 10025-5 também é referência para soldagem do aço patinável, que estabelece condições técnicas de fornecimento de aços estruturais com maior resistência à corrosão atmosférica.
Colaboração técnica
Célio Santos – diretor comercial da Oficina do Corten.
Gabriela Muller – arquiteta e urbanista pela Universidade de Brasília em 1998. É especialista luminotécnica e membro da International Association of Lighting Designers – IALD. Entre 1998 e 2002, colaborou com a empresa Light Design em Brasília, destacando-se a coordenação que exerceu como responsável pelo projeto de iluminação do Aeroporto de Palmas. Em 2005, assumiu a coordenação do escritório ATRIA São Paulo.
Glaucia Bisolli – analista de mercado na ArcelorMittal Tubarão desde 2010. Engenheira civil formada pela UFES, trabalhou como engenheira de estruturas de concreto armado, com ênfase em edifícios, por 20 anos. É membro da Comissão Executiva do Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA).
Humberto Bellei – Possui graduação em engenharia civil pelo Centro Universitário de Volta Redonda (1997), especialização em Engenharia de segurança do trabalho pelo Centro Universitário de Volta Redonda (2000), especialização em MBA em Gerencia de projetos pela Fundação Getúlio Vargas (2009), mestrado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (2006) e aperfeiçoamento em Curso de extensão em pontes metálicas pelo Centro Universitário de Volta Redonda (2000). Atualmente é especialista da Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais e Professor Titular do Centro Universitário de Belo Horizonte. Tem experiência na área de Engenharia Civil e compõe a Comissão Executiva do Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA).
Extraído: CBCA - 09/08/2016