Apesar do excesso de oferta de 600 milhões de toneladas de aço no mundo, empresas em diversos países mantêm seus parques fabris em marcha acelerada. O exemplo clássico é o da China, onde, mesmo com a economia em desaceleração, as usinas já estão tirando de seus fornos quase 70 milhões de toneladas por mês.
Chama a atenção nos últimos dados divulgados pela World Steel Association (Worldsteel) o desempenho das siderúrgicas europeias. Após vários anos de crise nos países da região, elas estão reocupando a capacidade de suas usinas sem ter buscado um ajuste estrutural de seu parque fabril diante das dificuldades do setor.
Nesta semana, representantes de governos de vários países na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vão debater, em reunião em Londres, a questão do excesso de oferta e tentar traçar algumas alternativas para amenizar o problema. O setor, no mundo, reluta em discutir mais profundamente uma política de corte da capacidade produtiva instalada.
A siderurgia é ainda vista como um segmento estratégico pela maioria das nações - das mais pobres às mais desenvolvidas. Dominar a produção do aço tem sido por séculos a garantia de poder, soberania, desenvolvimento de outras cadeias industriais, geração de empregos e por aí afora. Não importa o preço que custar.
O governo da França demonstrou exemplos disso nos últimos tempos. Entrou em conflito com o maior grupo mundial do aço, a ArcelorMittal, que decidiu desativar aciarias de aço improdutivas no país. O governo ameaçou até expulsá-lo. Há poucas semanas, o país privilegiou a venda da massa falida da Ascometal a um empresário francês, que garantiu reerguê-la e manter todos os empregos, em detrimento da proposta da Gerdau. O grupo brasileiro propunha alguns ajustes nas operações da empresa, incluindo pequenos fechamento de linhas.
Os últimos números da Worldsteel vêm mostrando uma recuperação contínua da oferta de aço nos países da União Europeia, principalmente França, Espanha, Itália, Bélgica, Polônia, Alemanha e Reino Unido. A produção cresceu 4% em abril e quase 7% no acumulado do ano. Enquanto isso, a oferta nos Estados Unidos, Brasil e em outros países das Américas patina e, em alguns casos, entrou em depressão.
Do outro lado do mundo, graças à China, com maior destaque para esse país, Índia, Coreia do Sul e Japão, o desempenho da Ásia cresceu 3% de janeiro a abril.
Certamente, por esse motivo, seis das dez maiores siderúrgicas do mundo no ranking da Worldsteel de 2013 estão na China. São grupos que até uma década atrás eram praticamente desconhecidos no mundo ocidental.
A grande referência da siderurgia era a japonesa Nippon Steel, que se fundiu há dois anos com a Sumitomo para ganhar escala e competitividade globais. Anos depois ganhou a companhia da sul-coreana Posco. Entre as nove asiáticas do ranking está a também japonesa JFE, fruto de uma fusão em 2003 da Kawasaki com a NKK.
A híbrida ArcelorMittal permanece ainda como líder global.
A maior parte do excesso de capacidade de produção está na China e em diversos países da Europa. E, ignorando um cenário de superoferta, ninguém se move para ajustar o mercado. Usinas chinesas, ao contrário, têm planos de expansão que vão injetar mais de 100 milhões de toneladas nos próximos dois anos.
De uma participação de quase 23% da oferta global em 2003, a siderurgia chinesa saltou para mais de 48% no ano passado, com 780 milhões de toneladas de aço bruto. É também o país de maior consumo do produto, suprindo as necessidades de sua economia. Ao mesmo tempo, lidera a lista dos maiores exportadores de aço, com denúncias de subsídios e dumping, principalmente para Europa, Estados Unidos e América Latina.
O excesso de oferta representa pouco mais de um terço da produção global, de 1,6 bilhão de toneladas no ano passado. Para 2014, a Worldsteel projeta mais expansão da oferta. Com baixo crescimento da economia e enfrentando leva de importados, a siderurgia brasileira opera com uma ociosidade da ordem de 30% nos seus fornos.
Extraído => Valor - 05/06/14